Eaí, Pessoal? Esse semestre na faculdade estou (com meu grupo, claro) realizando entrevistas com algumas pessoas de editorias especificas, e hoje no Dia do Trabalho trago uma Jornalista Econômica e alguns assuntos debatidos na nossa conversa. Confira abaixo.
Foto:Reprodução
Carla Jimenez graduada em jornalismo pela Faculdade Cásper
Líbero em 1991, já trabalhou em veículos de destaque na imprensa brasileira,
tais como a Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, a Revista Veja, e no
Estado de São Paulo, atualmente é editora de economia da Revista IstoÉ
Dinheiro. Sua carreira iniciou na década de 80, antes mesmo de concluir a
faculdade, enquanto cobriu as primeiras eleições do Chile após a ditadura.
Com uma carreira sólida dentro do jornalismo, Carla faz uma
análise da evolução da economia do Brasil nas últimas décadas, passando por
diversos fatores que influenciaram o crescimento do país. Ela discorre sobre os pontos determinantes e
que mudaram a história do país que deixou de ser um lugar esquecido no mapa e
passou a ganhar destaque na economia mundial.
A jornalista é enfática ao apontar os problemas sociais ainda
presentes no Brasil e a maneira pela qual, se resolvidos, poderiam colocar o
país nas primeiras posições do ranking das principais potências econômicas do
mundo.
Quais são os grandes desafios socioeconômicos que o Brasil enfrenta?
Carla- Eu ficava
falando para o meu chefe que a gente tinha que dar matéria sobre saneamento
básico. Ele falou “o que a gente vai fazer de saneamento básico?”. Saneamento
básico é uma área que ninguém investe e tem um mercado gigantesco. Eu vendi a
história do saneamento para ele como business, 80% das casas desse país, não têm
privada, isso é ridículo, nós moramos em São Paulo e tem um monte de gente que está
lotando o hospital público com diarreia, isso é um absurdo, isso é uma
vergonha, um país que se acha metido a
besta, não ter água tratada para tanta gente. Eu ficava ali na orelha do meu
chefe até ele se convencer. Daí a primeira matéria, depois a gente fez mais uma
matéria, agora veio uma terceira. Não são tantos jornalistas que dão bola para
saneamento básico. Os políticos não dão bola porque não é um negocio que dá
voto, a mídia não dá bola porque não é algo que dá leitura. Começaram parcerias
publico/privadas, os empresários estão investindo, eu conversava com as
empresas e elas falavam “a gente quer, a gente tem bilhões pra investir”. É um
bom negocio, dá mais dinheiro que investir em rodovia ou em porto que é o que
está na moda.
Qual o cenário da educação no Brasil?
Carla - O
Brasil investe muito mal em educação, esse é um problema que afeta as empresas.
Agora elas têm que contratar gente e não têm gente qualificada para contratar.
Ainda que pareça um assunto distante, não é. Hoje o meu desafio é mostrar o
quanto os empresários têm que cobrar o governo e o congresso pra que haja um
desenvolvimento coerente da educação nesse país, porque eles estão sendo
apertados, eles não tem quem contratar, não tem mais gente qualificada, um país
desse tamanho não tem gente com qualidade mínima, o professor que ganha mal é
um problema da empresa também.
Como você avalia os presidentes nas últimas
décadas?
Carla- Eu vejo nas eleições e eu
fui compreendendo muito também, como eu vivi isso muito intensamente, a
redemocratização brasileira. O Collor, depois o Tamar, depois o Fernando
Henrique e depois o Lula é uma aula para quem se interessa, eu nunca deixei de
ler, de estar ativa, conversando, discutindo sobre isso. Com o Collor perdeu-se
a ingenuidade de cara, de achar que ia ter um salvador da pátria, foi um
verdadeiro baque, a ponto de até a Globo se juntar a juventude pra tirar o
cara, veio o Fernando Henrique, que foi um excelente presidente, do ponto de
vista econômico o cara é brilhante, ele fez coisas que tinham que ser feitas,
estabelecer limites para o gasto público, ele deu transparência para os gastos
do governo, é lei isso. Nenhum governo pode ir lá gastar e não avisar o que está
gastando também, ele é um cara que foi necessário. É que chegou um ponto que eu
não gostava da posição dele, o PSDB
tratava a geração como uma geração perdida, e o Lula veio e disse “não a gente
salva os que estão aí”, aí que eu brinco que foi a lei Áurea da economia.
Quando ele criou um jeito, um círculo virtuoso que é aumentar o salário, porque
vão comprar mais, e a empresa vai investir mais por que o cara tem dinheiro,
entende? São dois caras muito importantes.
Nos últimos oito
anos, a média de crescimento do PIB, foi o dobro da média dos últimos 25 anos.
O Brasil está se fortalecendo de fato no cenário mundial ou é apenas uma fase
passageira?
Carla- O
Brasil está de fato se fortalecendo no mercado mundial e a gente tem que agradecer
todos os dias à existência de dois presidentes nesse país, Fernando Henrique
Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. O Fernando Henrique falou assim “pra
trabalhar o governo tem que ter transparência das contas públicas, todo mundo
tem que saber quanto o governo está gastando, governador não pode gastar mais
do que tem” isso existia aqui e é um absurdo, o prefeito gastava os tubos e
deixava a conta para o próximo, um dreno do dinheiro público. Para pagar a
conta o que o próximo fazia? Emitia dinheiro, igual ao homem que copiava, ele
ia lá e criava só que não tinha um lastro para aquilo. Sim de fato, se o PIB
cresceu mais esses oito anos, o Fernando Henrique deu a base para que isso
acontecesse. Hoje temos uma poupança que se chama Reserva Internacional, na época
do Fernando Henrique ainda era pouquinha, mas ele criou uma dinâmica para que
fosse aumentando essa poupança e foi o que o Lula de maneira inteligente fez,
manteve e hoje nós temos reservas que nos garantem uma estabilidade. A reserva
internacional é uma das coisas que dão a nota para o Brasil como país, por
agências de classificação de risco. Só essa questão da reserva já nos tornou
muito mais confiáveis. Antigamente o risco país brasileiro era muito grande.
Agora não, o nosso risco é pequeno, é fruto desses dois caras, de uma política
de estabilidade, o Fernando Henrique foi o único que conseguiu depois de
séculos conseguiu controlar a inflação.
Quais foram os
principais erros dos governos FHC e Lula?
Carla- Do
Fernando Henrique pra mim ficou muito claro, ele inclusive reconheceu em uma
entrevista que deu para a Época esses dias, ele não tinha feito cálculo de
quanto o investimento social era importante. Não me surpreende porque eles
sempre falavam de maneira arrogante, “geração perdida”, eu odiava essa frase,
foi o principal erro e ele sabe disso. Eu acho que ele errou apoiado pela
sociedade de não se abrir mais para o mercado, de não fechar acordos
comerciais, esse tipo de coisa que era importante, isso faria com que a gente
fosse muito mais competitivo hoje nas nossas empresas.
E
do Lula, os erros que eu vejo dele, é não ter sido mais sério com as coisas da
corrupção e com a educação. Outro dia eu entrei em um debate no facebook sobre
isso e disse que os dois foram necessários, chefes de estados excelentes, mas
os dois foram péssimos com a educação. Esse foi um erro imperdoável! Fizeram
essas palhaçadas de ENEM, aquelas baixarias de receita de miojo, isso é uma
coisa que me revolta e olha que a Dilma está investido bastante em educação,
mas eu acho aquele ministro dela um lixo, eu detesto o Mercadante, acho ele um
cara que está focado em eleição e não em fazer direito as coisas que ele tem
que fazer.
E isso aconteceu justamente na educação que seria a base para o progresso...
Carla- A
Coréia do Sul quando quis ser um país grande estabeleceu uma revolução dizendo
o seguinte “profissional mais bem pago da rede coreana será o professor”, aqui
hoje a babá está ganhando mais que o professor, isso é sacanagem! Uma
professora tomou uma cadeirada quando apagaram as luzes, o que é isso? Isso é
deprimente!
Falando um pouco desses eventos que nós
vamos receber, como a Copa do Mundo e Olimpíadas. Você acha será importante
para a economia?
Carla– Vai
ser importante por duas coisas, se for mal vai ser excelente, porque no fundo
nós ficamos aqui reclamando e ficamos desesperados de passar vergonha nessas
horas. O Lula é um cara que vai morrer e todas as gerações vão estudar sobre
esse cara, porque a partir do momento que ele batalhou por isso, sabe o que
aconteceu? A infraestrutura que nunca andou nesse país foi obrigada a andar,
porque já comprometeu lá fora, se não existissem esses dois eventos, uma série
de coisas no Brasil não teria andado como: privatização de aeroporto que era um
tabu no Brasil, concessão e privatização de rodovias, portos e etc. Isso só
está acontecendo porque temos um compromisso internacional para cumprir. O
Brasil está se debatendo com suas próprias falhas, os próprios comodismos. O
Brasil está sendo obrigado a falar da cultura da excelência, tem que ser um
país aberto, porque tira da zona de conforto e em termos capitais está atraindo
capital, as concessões andaram.
Você acha que se o
Brasil tivesse menos corrupção estaríamos mais perto de ser a quarta economia
do mundo?
Carla- Uma
vez eu conversei com um consultor especializando em BRICS (China, Índia Rússia
e Brasil), ele visitou todos os países e perguntei “a china tem tradição
milenar, a índia tem isso, a Rússia tem aquilo, e a gente é tão novinho que
tradição a gente tem?” Ele me respondeu “Carla você quer mais que os índios nos
deixaram? A preservação no meio ambiente, isso não tem preço em lugar nenhum”.
É o único país capaz de alimentar o mundo que não para de crescer. Somos sete
bilhões e a expectativa é que em 20 anos sejam mais dois bilhões de pessoas. Temos
o básico da humanidade que é o alimento!
Como é que você vai se alimentar de Ipad, de máquinas industriais? A
gente tem COMIDA!
A Vale foi
privatizada e se fala sobre a reestatização da Vale. Você acha que seria bom?
Carla- Não,
acho que não, e se você me perguntasse sobre a Petrobras ser privatizada, eu
acho que não também, acho que as duas coisas devem conviver, a Petrobras
estatal e a Vale privatizada. As duas são super fiscalizadas e são super
eficientes, então elas tem que existir sim, todos os países podem ter sua
empresa de petróleo estatal por que a gente não poderia ter? A Vale, deixa ela
ser privada,qual é o problema? As duas podem conviver muito bem. Não acho que
ela deve ser estatizada de jeito nenhum, ela é extremamente eficiente. Tem erro
de gestão? Tem, até porque caiu o faturamento de minério no mundo, mais é muito
bom que elas existam, para poder existir esse debate, a Petrobras vai ter que
provar para sociedade que ela é publica e eficiente ao mesmo tempo. Se tudo
privatizado é ruim, tudo estatal também
é ruim.
O Bolsa Família é um programa eficiente?
Carla- O Valor fez
uma matéria, e isso você pode achar também para argumentar, mostrando o número
de famílias que saíram do Bolsa Família. Claro que tem gente que é sem
vergonha, que é preguiçoso em qualquer comunidade. Em qualquer lugar, em
qualquer profissão, isso não é exclusividade dos pobres que precisam do Bolsa Família.
Existem famílias que vão saindo, porque os caras não tinham uma perspectiva de
vida, de repente os caras começaram a comer, ter dinheirinho para ter um batom.
A Marie Claire fez uma matéria sobre o Bolsa Família e o papel para as mulheres,
a volta da autoestima. É lindo, é lindo. Tudo que sai de Bolsa Família eu vou
lendo. As pessoas depois que já passam essa fase de “puxa comi”, se refestela. Com
o mínimo de quem nunca teve acesso, o que acontece? Quer mais, essa é a
natureza humana. O Bolsa Família virou em comunidades que não tinha nada, o
mais esperto montou um ‘negocinho’ para vender. Precisou contratar alguém e
esse alguém saiu do Bolsa Família. E isso foi acontecendo. Por isso eu falo que
o Lula é genial nessa parte, o cara nasceu na miséria, ele sabe.
Adorei a reportagem!!!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!
Obrigada! :)
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