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21/07/2013

O Brasil cresceu e não evoluiu, diz Giobbi

Vou começar o post de hoje pedindo desculpas por abandonar o blog. Desculpa, desculpa e desculpa! Como vocês sabem, mês de junho começam as provas finais, matéria do semestre inteiro para estudar, aquela loucura toda, mas graças a Deus eu passei em tudo. E logo em seguida fui viajar para Garça- interior de São Paulo, em que voltei essa semana- deixo os detalhes da viagem para o próximo post, só estou tentando me redimir com vocês e espero que me entendam. Hoje eu vou postar a entrevista com o jornalista Cultural, Cesar Giobbi, que realizei no semestre passado, onde eu contei como foi o dia para vocês AQUI. Vamos lá? :)

Foto: Reprodução

Cesar Batista Giobbi  é jornalista desde 1972, já trabalhou em veículos de destaque na imprensa brasileira, tais como Jornal da Tarde onde foi editor de Variedades, crítico de arte e repórter especial da área cultural. Em 1993, voltou para o Estadão, como colunista, com uma página diária, por 14 anos. Trabalhou também na Rádio Eldorado e Rádio Bandeirantes, falando sobre o terceiro setor, cultura, cidadania e comportamento. E Na TV Cultura como apresentador, no Canal Rural, e durante dez anos manteve um quadro semanal sobre programação cultural em São Paulo, no programa Amaury Jr, nas TVs Band, Record e RedeTV.
Foi e é articulista de várias revistas nacionais da área de cultura e estilo, como Vogue, Cidade Jardim, e revista Oscar.Em 2007, tinha um site voltado para cultura, estilo de vida, comportamento e laser.
Com uma carreira sólida dentro do jornalismo Cesar concebeu uma entrevista, onde falou sobre o jornalismo cultural, confira:

O que te levou a trabalhar com jornalismo cultural?
Cesar: Na verdade foi coincidência, eu estava no jornal da tarde, comecei como estagiário, era repórter da geral, ai eu fui ser copy (é uma coisa que não existe mais), o copy desk  era um jornalista que fazia o fechamento, então os repórteres traziam as matérias que eram editadas na página e a gente tinha que por a matéria no tamanho, então tinha que cortar, as vezes tinha que reescrever por o repórter não era tão bom de texto ou fazia uns erros, a gente tinha que consertar tudo aquilo e dar titulo, olho, legenda...fechava e descia, essa era uma figura que não existe mais, hoje em dia o repórter já é o fechador né? Naquela época não era e ainda passava por uma revisão, tinha três estágios. Eu sempre tive ligação com artes, eu sou filho de colecionador e começaram a me pedir matérias, eu tava no copy da internacional e me pediam matéria sobre arte para o departamento de variedades, um belo dia me chamaram pra ser copy da variedades e lá eu fiquei 14 anos ou coisa do gênero, fui editor, pauteiro, e ai com esse tempo todo além de me familiarizar com o assunto eu me familiarizei com o universo, então eu era amigos de todos os atores, dos diretores de teatro, a turma da música, dos maestros, dai veio essa minha convivência com o mundo cultural.
O que influenciou e influencia na sua vida? Teve alguma melhora desde que você começou a ter um contato maior o com a arte, ou não? Como você disse já veio de pequeno né.
Cesar: pois é, isso é uma coisa que ta intrínseca na minha vida eu sempre tive essa convivência, eu era criança e a minha mãe colocava musica clássica pra gente ouvir e contava uma historia em cima daquela musica e nós éramos crianças quatro, cinco anos e depois era engraçado por que os desenhos animados de quando eu era criança o fundo musical era sempre de musica clássica, então depois a gente ia nos consertos e escutava as musicas e eu e o meu irmão a gente reconhecia "a olha lá o pica pau" e a gente já tinha aquele ouvido e o meu pai começou a comprar arte e antiguidades e a gente era muito criança e já convivia com isso sempre e então eu passei o resto da minha vida gostando de teatro, de música erudita, de música popular...enfim
Quando você começou e hoje em dia. Ocorreu alguma mudança na cultura?
 Cesar: não... Quando eu era moço, no meio da ditadura a gente teve um momento cultural tão importante no Brasil que eu não acho que ele tenha sido superado, entre os ano 60,70 toda a criação foi tão rica, tudo que a gente via no teatro, a música popular era muito importante, a música erudita, enfim. Cresceu de tamanho, mas por que o Brasil cresceu de tamanho, não evoluiu em qualidade não, eu não acho.
Você passou por vários veículos e vários tipos de mídia diferentes, como rádio, TV e jornal impresso. Qual a diferença de falar de cultura de uma mídia pra outra? Tem diferença na linguagem?
Cesar: eu acho que é a mesma linguagem. Claro, quando você escreve você consegue ser um pouco mais analítico eu acho, você pode parar e pensar no que você vai dizer, pensar naquela frase direito, é diferente de você pegar um microfone no radio e sair falando sobre um espetáculo que você viu no dia anterior, é uma coisa muito mais coloquial, mas superficial, exatamente por que você não tem esse tempo de reflexão.
Como funciona a escrita em uma coluna social?
Cesar: Olha, você pode ser sofisticado no escrever, mas sempre a coluna social ta dentro de um jornal e a linguagem de um jornal tem sempre que ser clara e fácil por que não tem outro jeito de fazer jornal, eu trabalhei com jornal diário quase a minha vida inteira, por mais de 40 anos.
Então como colunista social nos dias de hoje, é difícil falar sobre cultura?
Cesar: Não, não deveria ser não, acho até que deveria ser obrigatório, por que é um canal de muita leitura, então é onde realmente você pode orientar, sabe? Aconselhar, “vai ver isso, vai ver aquilo” e o leitor é muito receptivo.
Como você definiria o jornalismo cultural?
Cesar: Eu diria que dentro de uma redação – as pessoas não gostam muito disso- mas a gente que é do meio cultural acha que é a nata de uma redação, é onde estão as cabeças mais pensantes e mais sensíveis e onde às vezes tem os melhores textos, eu acho que é uma coisa natural, por que quem faz jornalismo cultural, já é um jornalista com tendências pra escrever, ou pra ser poeta, ou pra ser músico, ou seja já tem alguma inclinação pra um ramo da cultura. Então eu acho que o jornalismo cultural é nata de uma redação, claro que tem exceções tem jornalistas brilhantes de economia, de politica... as grandes colunistas de politica nacionais a Dora Kramer, a Eliane, tem um texto incompreensível, o texto delas é maravilhoso.
O senhor acha que ocorre algum preconceito por parte dos outros jornalistas pelo fato de escrever uma coluna social?
Cesar: a com certeza, a imprensa não gosta, a imprensa em geral não gosta. Eles consideram um trabalho menor..acham que não tem consistência, substância, acham que é superficial, mas com certeza tem. Quer dizer você tem que ser muito bacana e ficar a cima disso e mostrar que você não ta fazendo só colunismo social que você ta fazendo crônicas da cidade, crônicas de comportamento pra te respeitarem, se não, não te levam a sério.
Como foi escrever uma página diária por tanto tempo? Tinha assunto sempre pra escrever?
Cesar: Assunto nunca faltava, pelo contrário sobrava, é claro que tinha uma equipe que me ajudava, mas a gente nunca ficava estressado com a falta de noticia, é claro que a primeira semana que eu assumi aquela coluna eu tinha uma pagina em branco todo dia e não tinha anuncio ainda, e depois teve uma época que eu tive que brigar com anunciante se não eu não tinha pagina mais, mas no começo não tinha, era uma pagina livre todo dia, então eu fiquei meio estressado, mas depois eu percebi que aquilo fluía normalmente.
A critica/crônica sempre lutam por um lugar no jornal, mas elas só entram quando sobra espaço.... Como você lidava com isso?
Cesar: Bom, eu tinha um espaço dado, eu podia fazer o que eu quisesse com aquele espaço se eu quisesse fazer critica e crônica naquele dia eu podia, agora claro que o espaço da critica cultural num jornal é diminuto, por que um jornal ele vai sempre dar preferencia para a noticia, se tem, por exemplo, a estreia do Caetano amanhã e tem a critica da orquestra que foi ontem e não vai se repetir o que você da? Você da a estreia do Caetano, então eu acho que a analise e a critica vão ser sempre preteridas em matéria de espaço.
Porque você suspendeu seu site?
Cesar: estou transformando num blog, por depois de tantos anos eu não quero mais ter um compromisso com a noticia, com o dia a dia, com o que ta acontecendo, eu não quero mais noticiar, eu só quero escrever o que eu quiser, parecendo um diário... saber, vai ser um diário, quem tiver curiosidade de ler o que eu to pensando vai estar lá, como eu ponho no facebook o mesmo texto, eu já tenho um leitor cativo ali e vou pegar o residual dos leitores do meu site.
Quais pontos devem ser levados em consideração na hora de opinar sobre algum artista, obra, exposição?
Cesar: eu acho que a primeira coisa é a emoção, eu acho que a primeira coisa é sempre o impacto emocional que você teve ao ver aquilo, quer dizer se a coisa te pegou ela é boa por alguma coisa, vamos analisar o que é que te emocionou daquele jeito e se você ficar la assim, como aquela cara daquele jeito, olhando pro relógio toda hora é por que alguma coisa ta errada, ai você vai analisar o por que aquilo tava errado, por que não te chamou a atenção, não te emocionou, ai a cabeça começa a ir buscar a razão.
O senhor sofreu censura em algum momento de sua carreira?
Cesar: Não, no estadão nunca... Não, eu não lembro de nada que pode ter sido assim... alguma vez mas assim, foram coisas que eram idiossincrasias do Estadão, de coisas por exemplo, tinha gente que as vezes não podia falar por que tava brigado com alguém, sabe? Alguém tinha se indisposto com alguém, então a gente era solicitado a não mencionar tal pessoa e tinha uma época que tinha palavras proibidas lá no Estadão, mas era por causa de  duplo sentidos e coisas do gênero...eles se irritavam quando eu fazia editoriais de politica ai vinha um recadinho assim “lembre-se que editoriais são na página 2, não na coluna social”, ta bom... ai eu ficava uma semana sem fazer isso e depois fazia de novo, quer dizer, eu sempre tive uma relação tão boa com o Estadão de convívio, de respeito pelo meu trabalho, que eu nunca tive problemas.
 O senhor escreve para todas as classes sociais? Se não, qual classe desejaria alcançar?
Cesar: Olha, na verdade quando você escreve uma coluna social, você acha que você esta se dirigindo a um leitor de coluna social, você não sabe exatamente como ele é por que pode ser a milionária, mas pode ser a secretaria da milionária também e isso me surpreende porque acontece muito, mas agora... quando você faz televisão ai você não sabe realmente pra quem é, eu fiz dois anos de tv cultura, eu tinha um programa semanal de uma hora, super bacana sobre São Paulo, super variado e a gente apresentava vários aspectos da cidade e no fim tinha sempre uma entrevista. A TV Cultura a principio é uma tv elitista, e você sempre acha que é criança ou adulto que vê TV Cultura, por que ou tem programa infantil ou tem programa mais pesadão e tal, mas eu ficava por exemplo, nas viradas culturais eu saia pela madrugada o tanto de adolescente que chegava perto de mim e falava “ai o seu programa é super legal” e gente de periferia que eu não imaginava, mas depois é obvio né, quem não tem o cable, tem muito menos opção de zapping né? Então acaba caindo na TV Cultura com muito mais frequência do que quem tem aqueles 100 canais de televisão e ai eu percebi que a minha linguagem, que era sofisticada, por que era um programa super sofisticado, super bem feito, com uma edição de imagem super bacana e tudo, é uma coisa que me surpreendeu pra caramba, é uma coisa que você atira e não sabe onde vai cair .
O senhor acha que hoje em dia existem muitos jornalistas culturais opinativos? Ou prevalecem os informativos?
Cesar: Olha, tem muita gente que escreve muito bem, eu leio a Folha, o Estado, não leio muito os jornais do Rio, mas tem jornalistas muito preparados pra escrever sobre arte, sobre musica, sobre cinema, sobre teatro, sobre literatura, tem gente muito boa, em geral.. as vezes eles são jornalistas que se interessaram por um assunto e desenvolveram uma especialidade, num é gente que foi estudar isso pra depois escrever, isso você encontra na universidade, então as vezes o jornal publica textos de professores de áreas especificas, sobre um assunto especifico, mas os jornalistas que se especializaram em cinema, que nem o Merten e o Zanin Oricchio lá do Estadão, que escrevem sobre cinema... escrevem esplendidamente bem, sobre isso e sem ter feito uma faculdade de cinema sem ter estudado nada. Eles por exemplo, os dois que eu citei.. quando eles cobrem Canes por exemplo ou um festival em Berlim, eles fazem a matéria informativa, sobre o que ta acontecendo, a entrevista que eles fizeram e depois num box eles fazem a critica do filme que eles viram, você não pode ser opinativo na matéria, isso continua proibitivo na imprensa quando você  informa, você informa, você no pode ter lado, quando você é critico... ai é uma critica separada, num box separado, ai você da a sua opinião.
Quanto tempo do seu dia é dedicado a redes sociais?
Cesar: Olha, hoje em dia muito... por que se você tem twitter, facebook, instagram e mais o e-mail você passa horas no computador, organizando aquilo, limpando, respondendo, é muito tempo.
Você acha que ficou mais fácil atingir mais pessoas, depois que surgiram as redes sócias?
Cesar: Com certeza é, agora criaram tanto canais de comunicação que agora pra você manter a sua comunicação com as pessoas, você tem que olhar aonde estão te requisitando, então tem e-mail que você tem que responder, tem o facebook que te perguntaram alguma coisa lá e você tem que responder, no twitter você tem que olha pra ver se você não esta sendo citado e você perde muito tempo, eu preferia que fosse um canal só o e-mail só pra comunicação e o resto só pra diversão mas infelizmente as pessoas já estão fazendo interlocução através de outros canais e tem mensagem de telefone também, mas essa eu acho mais rápida, você resolve mais rápido.
Cada jornalista tem seu estilo próprio na hora da escrita, o que sempre predomina nos seus textos?
Cesar: Eu percebo que quando eu faço televisão o meu texto é muito cumprido, o meu período é muito longo, então pra mim mesmo é complicado na hora do teleprompter eu tenho que estudar aquele texto, por que eu tenho que fazer uma pontuação automática pra poder respirar, então eu acho que o meu texto tem os períodos longos, é uma característica do meu texto, não é uma coisa assim... de tudo em frases pequenas.
Quando você vai falar a opinião de cultura, na TV Gazeta, o que você leva em consideração pra falar naquele dia, sobre que assunto, se saiu agora ou se é uma coisa do passado?
Cesar: Na verdade como é muito pouco tempo, é mais informativo do que opinativo, mas eu acho que quando você faz uma seleção, você já esta sendo orientativo pelo menos, não é emitir uma opinião mas você esta deixando de lado um monte de coisa que você acha que não vale a pena, então já é um funil, já é uma seleção.Na verdade é o que interessa a mim, eu boto uma coisa pessoal, o que eu to achando relevante naquela semana pra falar.
O jornalismo é informativo, mas as criticas são baseadas em algo que você viu e sentiu, então não é uma coisa muito técnica, tipo “a Dilma foi eleita”
Cesar: então, mas eu acho que quando você vai formar a sua opinião sobre o que você viu, quanto mais informação você tiver sobre aquilo, você vai estar mais embasado, mas preparado para ter uma opinião, o jornalista vai te preparar pra isso, ele vai contar tudo que esta acontecendo ou aconteceu nos bastidores, como nasceu aquela ideia, como foi adaptado aquele texto, no que o compositor se inspirou pra fazer aquela canção , por que ele mudou de gênero do ultimo show pra esse, ai você vai informado e analisa a volta que ele deu, a mudança a partir do ultimo disco pra esse ou que mudança sonora aconteceu, ou ele manteve o mesmo texto teatral da ultima vez, você vai muito mais preparado pra ter uma opinião, além do gostei ou não gostei, então eu acho que a informação cultural é muito importante. Tem que ter dados técnicos, pra você querendo ou não ter uma base. E depois, se o jornalista for dar alguma opinião, ai sim tem que dizer por que é bom ou por que é ruim. Não basta o dizer se gostou ou não por que se não fica muito subjetivo.

Espero vocês no próximo post, sobre a minha viagem e sobre a festa típica de Garça, chamada cerejeira. beijinhos, até logo.

01/05/2013

“Saneamento básico não concebe voto, água tratada é luxo”, afirma Jimenez

Eaí, Pessoal? Esse semestre na faculdade estou (com meu grupo, claro) realizando entrevistas com algumas pessoas de editorias especificas, e hoje no Dia do Trabalho trago uma Jornalista Econômica e alguns assuntos debatidos na nossa conversa. Confira abaixo.

Foto:Reprodução

Carla Jimenez graduada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero em 1991, já trabalhou em veículos de destaque na imprensa brasileira, tais como a Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, a Revista Veja, e no Estado de São Paulo, atualmente é editora de economia da Revista IstoÉ Dinheiro. Sua carreira iniciou na década de 80, antes mesmo de concluir a faculdade, enquanto cobriu as primeiras eleições do Chile após a ditadura.
Com uma carreira sólida dentro do jornalismo, Carla faz uma análise da evolução da economia do Brasil nas últimas décadas, passando por diversos fatores que influenciaram o crescimento do país.  Ela discorre sobre os pontos determinantes e que mudaram a história do país que deixou de ser um lugar esquecido no mapa e passou a ganhar destaque na economia mundial.
A jornalista é enfática ao apontar os problemas sociais ainda presentes no Brasil e a maneira pela qual, se resolvidos, poderiam colocar o país nas primeiras posições do ranking das principais potências econômicas do mundo.

Quais são os grandes desafios socioeconômicos que o Brasil enfrenta?
Carla- Eu ficava falando para o meu chefe que a gente tinha que dar matéria sobre saneamento básico. Ele falou “o que a gente vai fazer de saneamento básico?”. Saneamento básico é uma área que ninguém investe e tem um mercado gigantesco. Eu vendi a história do saneamento para ele como business, 80% das casas desse país, não têm privada, isso é ridículo, nós moramos em São Paulo e tem um monte de gente que está lotando o hospital público com diarreia, isso é um absurdo, isso é uma vergonha, um  país que se acha metido a besta, não ter água tratada para tanta gente. Eu ficava ali na orelha do meu chefe até ele se convencer. Daí a primeira matéria, depois a gente fez mais uma matéria, agora veio uma terceira. Não são tantos jornalistas que dão bola para saneamento básico. Os políticos não dão bola porque não é um negocio que dá voto, a mídia não dá bola porque não é algo que dá leitura. Começaram parcerias publico/privadas, os empresários estão investindo, eu conversava com as empresas e elas falavam “a gente quer, a gente tem bilhões pra investir”. É um bom negocio, dá mais dinheiro que investir em rodovia ou em porto que é o que está na moda.

Qual o cenário da educação no Brasil?
Carla - O Brasil investe muito mal em educação, esse é um problema que afeta as empresas. Agora elas têm que contratar gente e não têm gente qualificada para contratar. Ainda que pareça um assunto distante, não é. Hoje o meu desafio é mostrar o quanto os empresários têm que cobrar o governo e o congresso pra que haja um desenvolvimento coerente da educação nesse país, porque eles estão sendo apertados, eles não tem quem contratar, não tem mais gente qualificada, um país desse tamanho não tem gente com qualidade mínima, o professor que ganha mal é um problema da empresa também.

Como você avalia os presidentes nas últimas décadas?
Carla- Eu vejo nas eleições e eu fui compreendendo muito também, como eu vivi isso muito intensamente, a redemocratização brasileira. O Collor, depois o Tamar, depois o Fernando Henrique e depois o Lula é uma aula para quem se interessa, eu nunca deixei de ler, de estar ativa, conversando, discutindo sobre isso. Com o Collor perdeu-se a ingenuidade de cara, de achar que ia ter um salvador da pátria, foi um verdadeiro baque, a ponto de até a Globo se juntar a juventude pra tirar o cara, veio o Fernando Henrique, que foi um excelente presidente, do ponto de vista econômico o cara é brilhante, ele fez coisas que tinham que ser feitas, estabelecer limites para o gasto público, ele deu transparência para os gastos do governo, é lei isso. Nenhum governo pode ir lá gastar e não avisar o que está gastando também, ele é um cara que foi necessário. É que chegou um ponto que eu não gostava da posição dele, o PSDB tratava a geração como uma geração perdida, e o Lula veio e disse “não a gente salva os que estão aí”, aí que eu brinco que foi a lei Áurea da economia. Quando ele criou um jeito, um círculo virtuoso que é aumentar o salário, porque vão comprar mais, e a empresa vai investir mais por que o cara tem dinheiro, entende? São dois caras muito importantes.

Nos últimos oito anos, a média de crescimento do PIB, foi o dobro da média dos últimos 25 anos. O Brasil está se fortalecendo de fato no cenário mundial ou é apenas uma fase passageira?
Carla- O Brasil está de fato se fortalecendo no mercado mundial e a gente tem que agradecer todos os dias à existência de dois presidentes nesse país, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. O Fernando Henrique falou assim “pra trabalhar o governo tem que ter transparência das contas públicas, todo mundo tem que saber quanto o governo está gastando, governador não pode gastar mais do que tem” isso existia aqui e é um absurdo, o prefeito gastava os tubos e deixava a conta para o próximo, um dreno do dinheiro público. Para pagar a conta o que o próximo fazia? Emitia dinheiro, igual ao homem que copiava, ele ia lá e criava só que não tinha um lastro para aquilo. Sim de fato, se o PIB cresceu mais esses oito anos, o Fernando Henrique deu a base para que isso acontecesse. Hoje temos uma poupança que se chama Reserva Internacional, na época do Fernando Henrique ainda era pouquinha, mas ele criou uma dinâmica para que fosse aumentando essa poupança e foi o que o Lula de maneira inteligente fez, manteve e hoje nós temos reservas que nos garantem uma estabilidade. A reserva internacional é uma das coisas que dão a nota para o Brasil como país, por agências de classificação de risco. Só essa questão da reserva já nos tornou muito mais confiáveis. Antigamente o risco país brasileiro era muito grande. Agora não, o nosso risco é pequeno, é fruto desses dois caras, de uma política de estabilidade, o Fernando Henrique foi o único que conseguiu depois de séculos conseguiu controlar a inflação.
  
Quais foram os principais erros dos governos FHC e Lula?
Carla- Do Fernando Henrique pra mim ficou muito claro, ele inclusive reconheceu em uma entrevista que deu para a Época esses dias, ele não tinha feito cálculo de quanto o investimento social era importante. Não me surpreende porque eles sempre falavam de maneira arrogante, “geração perdida”, eu odiava essa frase, foi o principal erro e ele sabe disso. Eu acho que ele errou apoiado pela sociedade de não se abrir mais para o mercado, de não fechar acordos comerciais, esse tipo de coisa que era importante, isso faria com que a gente fosse muito mais competitivo hoje nas nossas empresas.
E do Lula, os erros que eu vejo dele, é não ter sido mais sério com as coisas da corrupção e com a educação. Outro dia eu entrei em um debate no facebook sobre isso e disse que os dois foram necessários, chefes de estados excelentes, mas os dois foram péssimos com a educação. Esse foi um erro imperdoável! Fizeram essas palhaçadas de ENEM, aquelas baixarias de receita de miojo, isso é uma coisa que me revolta e olha que a Dilma está investido bastante em educação, mas eu acho aquele ministro dela um lixo, eu detesto o Mercadante, acho ele um cara que está focado em eleição e não em fazer direito as coisas que ele tem que fazer.

E isso aconteceu justamente na educação que seria a base para o progresso...
Carla- A Coréia do Sul quando quis ser um país grande estabeleceu uma revolução dizendo o seguinte “profissional mais bem pago da rede coreana será o professor”, aqui hoje a babá está ganhando mais que o professor, isso é sacanagem! Uma professora tomou uma cadeirada quando apagaram as luzes, o que é isso? Isso é deprimente!

Falando um pouco desses eventos que nós vamos receber, como a Copa do Mundo e Olimpíadas. Você acha será importante para a economia?
Carla– Vai ser importante por duas coisas, se for mal vai ser excelente, porque no fundo nós ficamos aqui reclamando e ficamos desesperados de passar vergonha nessas horas. O Lula é um cara que vai morrer e todas as gerações vão estudar sobre esse cara, porque a partir do momento que ele batalhou por isso, sabe o que aconteceu? A infraestrutura que nunca andou nesse país foi obrigada a andar, porque já comprometeu lá fora, se não existissem esses dois eventos, uma série de coisas no Brasil não teria andado como: privatização de aeroporto que era um tabu no Brasil, concessão e privatização de rodovias, portos e etc. Isso só está acontecendo porque temos um compromisso internacional para cumprir. O Brasil está se debatendo com suas próprias falhas, os próprios comodismos. O Brasil está sendo obrigado a falar da cultura da excelência, tem que ser um país aberto, porque tira da zona de conforto e em termos capitais está atraindo capital, as concessões andaram.

Você acha que se o Brasil tivesse menos corrupção estaríamos mais perto de ser a quarta economia do mundo?
Carla- Uma vez eu conversei com um consultor especializando em BRICS (China, Índia Rússia e Brasil), ele visitou todos os países e perguntei “a china tem tradição milenar, a índia tem isso, a Rússia tem aquilo, e a gente é tão novinho que tradição a gente tem?” Ele me respondeu “Carla você quer mais que os índios nos deixaram? A preservação no meio ambiente, isso não tem preço em lugar nenhum”. É o único país capaz de alimentar o mundo que não para de crescer. Somos sete bilhões e a expectativa é que em 20 anos sejam mais dois bilhões de pessoas. Temos o básico da humanidade que é o alimento!  Como é que você vai se alimentar de Ipad, de máquinas industriais? A gente tem COMIDA!

A Vale foi privatizada e se fala sobre a reestatização da Vale. Você acha que seria bom?
Carla- Não, acho que não, e se você me perguntasse sobre a Petrobras ser privatizada, eu acho que não também, acho que as duas coisas devem conviver, a Petrobras estatal e a Vale privatizada. As duas são super fiscalizadas e são super eficientes, então elas tem que existir sim, todos os países podem ter sua empresa de petróleo estatal por que a gente não poderia ter? A Vale, deixa ela ser privada,qual é o problema? As duas podem conviver muito bem. Não acho que ela deve ser estatizada de jeito nenhum, ela é extremamente eficiente. Tem erro de gestão? Tem, até porque caiu o faturamento de minério no mundo, mais é muito bom que elas existam, para poder existir esse debate, a Petrobras vai ter que provar para sociedade que ela é publica e eficiente ao mesmo tempo. Se tudo privatizado é ruim, tudo estatal também é ruim.

O Bolsa Família é um programa eficiente?
Carla- O Valor fez uma matéria, e isso você pode achar também para argumentar, mostrando o número de famílias que saíram do Bolsa Família. Claro que tem gente que é sem vergonha, que é preguiçoso em qualquer comunidade. Em qualquer lugar, em qualquer profissão, isso não é exclusividade dos pobres que precisam do Bolsa Família. Existem famílias que vão saindo, porque os caras não tinham uma perspectiva de vida, de repente os caras começaram a comer, ter dinheirinho para ter um batom. A Marie Claire fez uma matéria sobre o Bolsa Família e o papel para as mulheres, a volta da autoestima. É lindo, é lindo. Tudo que sai de Bolsa Família eu vou lendo. As pessoas depois que já passam essa fase de “puxa comi”, se refestela. Com o mínimo de quem nunca teve acesso, o que acontece? Quer mais, essa é a natureza humana. O Bolsa Família virou em comunidades que não tinha nada, o mais esperto montou um ‘negocinho’ para vender. Precisou contratar alguém e esse alguém saiu do Bolsa Família. E isso foi acontecendo. Por isso eu falo que o Lula é genial nessa parte, o cara nasceu na miséria, ele sabe.